domingo, 12 de maio de 2013

Nada parece querer aparecer.


Nada parece querer aparecer.
Ele falou do personagem que bateu em quase todas as portas do corredor e não conseguiu abrir nenhuma; mesmo assim ele queria entrar, queria ver o outro lado. Tentou, bateu, desejou e nada. Não entrou, nenhuma porta abriu. E um dia, bastante tempo já passado, sem querer esbarrou na única porta que ele não tinha desejado, e ela por acaso abriu. E como ele já tinha tentado todas, e como essa abriu assim - sem querer, abriu assim - de repente, ele nem pensou, entrou. Antes que pudesse refletir sobre qualquer idéia ou impressão lógica, ele já havia sido tomado pelos seus sensores mais finos, ele acessava através daquela porta - sensação, algo que independia de um entendimento, de um por que. Era o que era, e era só naquela porta e não noutra. Ele achou que o sentimento de prazer fosse permanecer, ele achou que seria assim, sempre. Ele chegou do outro lado, sentiu seu rosto molhar, os olhos levemente arderam, manifestações breves, que em seguida o deixaram.
O importante nisso tudo, é que ele não voltou, eu quero dizer, não optou por sair e fechar a porta. Ele entrou e deixou a porta aberta, afinal é bom deixar a corrente de ar passear de um espaço para o outro, é bom sentir a brisa que passa recolhendo ar de vários lugares por onde ela passa. Ele não quis, ou não sentiu a necessidade de definir aqui ou ali, ele entrou. Entrou em algum tipo de êxtase, tomou mais alguns passos e foi cobrado pela vontade de encontrar de novo a mesma sensação. Talvez ele tivesse  presenciado alguma parte da arte, um pedaço, algo que talvez nem tenha nome, e nem seja arte, mas não consigo pensar em outro estado que não arte, ou outra área que não a criação. Mas também eu não sei de quase nada. Como ele, fico querendo sentir, mas nesse desejo pela sensação me distancio do presente, e acabo nem sentindo e nem refletindo sobre. Eu me encontro sempre no mesmo lugar ou em lugar nenhum – o mesmo onde possivelmente  mora a maioria que tem medo de viver e a maioria que tem medo de morrer. Um lugar de ausência, não uma ausência parte de um todo, que ora está presente, ora vazio. Mas uma ausência permanente, uma ausência reativa e passiva.

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