Nada parece querer aparecer.
Ele falou do personagem que bateu em quase todas as portas
do corredor e não conseguiu abrir nenhuma; mesmo assim ele queria entrar, queria ver o outro lado. Tentou, bateu,
desejou e nada. Não entrou, nenhuma porta abriu. E um dia, bastante tempo já
passado, sem querer esbarrou na única porta que ele não tinha desejado, e ela
por acaso abriu. E como ele já tinha tentado todas, e como essa abriu assim -
sem querer, abriu assim - de repente, ele nem pensou, entrou. Antes que pudesse
refletir sobre qualquer idéia ou impressão lógica, ele já havia sido tomado
pelos seus sensores mais finos, ele acessava através daquela porta - sensação,
algo que independia de um entendimento, de um por que. Era o que era, e era só
naquela porta e não noutra. Ele achou que o sentimento de prazer fosse
permanecer, ele achou que seria assim, sempre. Ele chegou do outro lado, sentiu
seu rosto molhar, os olhos levemente arderam, manifestações breves, que em
seguida o deixaram.
O importante nisso tudo, é que ele não voltou, eu quero
dizer, não optou por sair e fechar a porta. Ele entrou e deixou a porta aberta,
afinal é bom deixar a corrente de ar passear de um espaço para o outro, é bom
sentir a brisa que passa recolhendo ar de vários lugares por onde ela passa. Ele
não quis, ou não sentiu a necessidade de definir aqui ou ali, ele entrou. Entrou
em algum tipo de êxtase, tomou mais alguns passos e foi cobrado pela vontade de
encontrar de novo a mesma sensação. Talvez ele tivesse presenciado alguma parte da arte, um pedaço,
algo que talvez nem tenha nome, e nem seja arte, mas não consigo pensar em
outro estado que não arte, ou outra área que não a criação. Mas também eu não
sei de quase nada. Como ele, fico querendo sentir, mas nesse desejo pela sensação
me distancio do presente, e acabo nem sentindo e nem refletindo sobre. Eu me
encontro sempre no mesmo lugar ou em lugar nenhum – o mesmo onde possivelmente mora a maioria que tem medo de viver e a
maioria que tem medo de morrer. Um lugar de ausência, não uma ausência parte de
um todo, que ora está presente, ora vazio. Mas uma ausência permanente, uma ausência
reativa e passiva.
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