quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pode ser - Diálogo treino

A - O acaso me deixou assim, aqui pendurado.
B - O acaso me levou para outro caminho.
A - Mas você está aqui me vendo pendurado.
B - Mas eu sei que já já por exemplo você vai sentar.
A - Eu não sei por que eu estou aqui.
B - Eu não sei nem por que você está aqui.
A - O acaso?
B - É pode ser o acaso.
A – É o acaso.
B – O acaso.
A - Você poderia voltar comigo?
B - Sim eu posso voltar com você. Só me diz quando.
A – Certo.
B - Daqui a pouco chega a hora certa.
A - Não posso perder.
B - Eu vou tentar fazer tudo devagar para que você não se perca.
A - Eu estava falando da hora certa.
B - Eu também.
A - Talvez você pudesse deitar do meu lado.
B - Talvez eu pudesse sentar do seu lado.
Os dois deitam
A - Não fica de costas para mim não.
B - Se eu te olhar talvez me esqueça de te lembrar a hora certa.
A - É verdade eu não posso perder a hora certa.
B - Espera.
A - Eu estou aqui.
B - Eu tenho uma idéia.
Silêncio
B - Canta.
A - Eu não sei cantar.
B - Então não vai funcionar. Deixa pra lá.
A - Deixar o que?
B - Pra lá, a idéia.
A - É verdade. Vamos então jogar um jogo.
B - Jogo da espera.
A - Pode ser.
B – Tá.
A - Um, dois, três, quatro.
B - Cinco, seis, sete, oito
A - A gente vai ficar contando?
B - Quem espera conta.
A - Conta o que?
B - O tempo.
A - Não gostei.
B - A gente pode lembrar de coisas.
A - Eu não me lembro mais.
B - O que?
A - O que é que eu estou fazendo aqui?
B - Nós vamos embora juntos.
A - Tudo culpa do acaso.
B- Tudo culpa sua.
A - Eu estava me pendurando.
B - Então eu posso falar tchau e te empurrar.
A - E ir embora.
B - Então agora eu estou de dando tchau, estou te empurrando, estou te beijando e indo embora.
A - Não tinha beijo.
B - Foi o acaso.
A – Certo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Tudo Certinho

Eu vou embora e você não vai nem ter me reconhecido. Eu falava com você todos os dias, e você não me dizia nada, não queria me ouvir não queria falar nada que me deixasse mal. As vezes eu tentava cochichar, achava que você não veria, que você não perceberia e hoje você está aqui me chamando, me falando de tudo isso que eu nunca percebi, nunca achei que pudesse ser importante para você. Eu me confundi com as coisas, com as escolhas , com o tempo. Com o nosso tempo, o nosso momento de sei lá o que. De pular e se jogar no que eu nem sabia que pudesse ser coisa. Eu saí correndo ontem de você, dos outro que não querem me falar, dos outros que eu não entendo, eu saí para fugir e nunca voltar por falta de vontade e falta de escolha. Aqui já não me serve, já fiquei aqui comigo. E você que nem sabe que não me serve. Vou embora, você que me ama não me conhece, não sabe de mim, só de mim que já é mim que você já me conhece. E o outro mim, os outros mins são tão mais possíveis e interessantes. Não existem, não se completam porque são impossíveis. Eu te amo sem saber, sem confiar sem estar. Eu te amo porque eu te amo, não sei por que eu te amo. Me falaram que era interessante eu te amar. Mas eu não quero mais eu te amar, eu quero eu me te estar, eu quero eu me estar. Sem saber de mais nada e de mais ninguém. Eu não quero mais ter que te procurar e te encontrar. Eu esqueci das possibilidades desse encontro que vai se interromper, fragmentar. Um encontro de um com uns, com os outros. Medo dessa confusão, das coisas que penso sempre em relação a você. Não sei o que isso pode significar, mas também não queria pensar em sentido, sentir, sentar, estar

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Deita em Mim

A - Ansiedade é uma coisa que mata.
B - Ansiedade me faz perder o controle.
A - Deita em mim, por favor.
B - Faz tempo que eu não faço isso. Era...
A - Deita em mim vai.
B - E depois como eu faço para levantar.
A - Depois você levanta.
B - Depois eu não vou mais querer. Faz tanto tempo.
A - Faz tanto tempo... deita em mim.
B - Eu tenho medo. Eu deito em você todos os dias e você nem sabe.
A - Faz tempo... a última vez foi...
B - Ontem eu deitei em você. Ontem.
A - Eu sinto falta do seu peso.
B - Hoje eu sou mais leve, não peso mais tanto.
A - Sinto falta da sua leveza que eu nunca conheci.
B - Deita em mim. Você não vai nem sentir.
A - Nessas horas eu sinto calor. Minhas costas sempre queimam.
B - Nessas horas eu tenho vontade rir muito.
A - De nervoso.
B - De medo.
A - De saudade.
B - De vida.
A - Eu tenho vergonha às vezes. Faz tanto tempo.
B - Você nem lembra mais de mim.
A - Você não é mais o mesmo.
B - Acabei de mudar.
A - Mentira.
B - Mentira é a leveza da distância.
A - Verdade. Ontem eu pensei em você e hoje você está aqui.
B - Você fala isso toda vez.
A - Toda vez é isso.
B - Eu penso.
A - Eu apareço.
B - Você sabe de mim.
A - Eu só sei de você e mais nada. Isso sim é leveza.
B - Isso é peso. Peso da sua existência.
A - Peso do meu corpo.
B - Deita em mim.
A - Deito em você só hoje.
B - Deita em mim.
A - Deito em você.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dialogo Treino 3

A – Você está aí esperando?
B – Eu estou sempre esperando.
A – O que?
B – Sabe que eu não sei. Eu só espero.
A – Eu não tenho paciência para esperar. Estou sempre antecipando tudo.
B – Pois é, você acha que controla.
A – Você também, porque quando espera acha que pode escolher ou saber a hora certa.
B – Hora certa! É porque a gente pode sentir quando é a hora certa. Isso não é controle, isso é disponibilidade ou até entrega.
A - Você pode dar o nome que quiser. Para mim é um tipo de controle.
B – Por que você não vai embora e me deixa esperando?
A – Porque eu tenho que ficar aqui do seu lado.
B – Quem disse?
A – Ninguém, eu sei. Também sei que você deve pular enquanto espera.
B – Pular?
A – É pular.
B – Quem disse?
A– Ninguém. Eu sei. Pula.
B – (começa a pular) E agora?
A – Fica aí pulando, senão você se desconecta.
B – E o que é que eu faço se eu me desconectar?
A – Para de pular e se joga.
B – O que é que você disse?
A – Que você pode se jogar caso se desconecte.
B – Não me desconectei. (sem parar de pular) Ó to aqui, ó to aqui.
A – Muito bom! Parabéns.
B – (se joga no chão) Qual é o meu nome?
A – Nome? Mas você não estava esperando?
B – Estava? Espera. Esperando o que?
A – Ué! Você disse que estava esperando a hora certa.
B – Estranho. Esperar a hora certa, e aí depois eu paro de viver?
A – Acho que é por isso que você nunca teve um grande amor.
B – Mas eu esperei de calcinha vermelha.
A – Você acha o que? O que é que você está pensando?
B – Eu estava pensando nisso.
A – Não mente.
B – Me tira daqui.
A – Se joga de novo.
B – Você está me confundindo. Me solta. Me larga. Eu não sou você.
A – Você não sabe.
B – Me tira daqui. Eu não estou morta. Ontem eu dei o cú. Eu não estou morta, eu dei viva. Viva! Eu não estou morta.
A – Quem disse que você está morta? (rindo) Que doida! Você não estava só esperando?
B – Eu estava? Não me lembro. Eu estou viva. Não me lembro.
A – Você está esperando morrer.
B – Pode ser. A hora certa vai chegar. Aos poucos eu me perco de mim. Você não pode me matar. Eu tenho a hora certa.
A – Você e a hora certa. Que boba. Hora certa... Se joga!
B – Eu não consigo. Não consigo me ver de fora. Acho que estou perdendo o meu contorno.
A – Eu estava pensando nisso.
B – Pensando em que?
A – No seu contorno, e não é que eu não estou mais te reconhecendo. Talvez você realmente devesse se jogar. Quem sabe alguma coisa acontece. Vai que você se reconecta.
B – Mas se eu me reconectar, não vai chegar a minha hora?
A – Que hora?
B – Hora certa.
A – Hora certa de que?
B – De morrer, viver, voltar...
A – Voltar para onde? De onde você veio?
B – Acho que eu tive um fusca, me lembro disso. Consigo até ouvir o barulho do motor dele, parecia sempre que ia morrer a qualquer segundo.
A – E o que mais?
B – Que mais o que? Um fusca já é uma boa lembrança. Me faz ser alguém.
A – O fusca te faz ser alguém?
B – Não a lembrança me faz ser alguém. Meu nome pode até ter sido Carmem.
A – Carmem?
B – E também me lembro dessa frase – “Todo grande amor sempre acaba.”
A – Quem te falou isso?
B – Bom aí você já está querendo demais. São três lembranças! Eu estou viva e talvez não saiba hora certa de morrer.
A – A é? Três lembranças e agora você está achando que se conectou. (risos) Coitada.
B – Carmem, meu querido fusca e “todo grande amor sempre acaba”. Pronto. Sou alguém.
A – (rindo muito)
B – Eu sou Graça. Isso! Meu nome não é Carmem é Graça! Maria da Graça. Eu sabia que tinha um nome comum.
A – Prazer Maria da Graça. Eu voltei. Você está pronta?
B – Eu nasci pronta. Vamos.
A – Me acompanhe.
B – Com prazer. Vamos.
A – Vamos.
B – Vamos.
A – Tchau.
Duas sequencias que podem continuar esse dialogo.
PRIMEIRA

(A vira de costas pra ir embora sozinha, mas não ouve o tchau de B, então vira de novo)
A – Me dá tchau porra!
B – Oi.
A – Eu estou indo embora. Com ou sem tchau. Você escolhe. Tchau.
B – Oi, fica.
A – Tchau eu vou.
B – Me beija.
A – Você nunca quis me beijar.
B – Hoje eu quero.
A – Hoje eu vou embora.
B – Hoje eu te beijo. Amanhã você vai embora.
A – Amanhã eu beijo outro e depois outro. Hoje eu vou embora. Tchau.
B – Tchau. Já me esqueci de você e do seu beijo.
A – Eu nunca te beijei.
B – Você também se esqueceu.
A – Impossível.
B – Impossível...
A – Tchau. (sai)

SEGUNDA
A – Prazer Maria da Graça. Eu voltei. Você está pronta?
B – Eu nasci pronta. Vamos.
A – Me acompanhe.
B – Com prazer. Vamos.
A – Vamos.
B – Vamos.
A – Tchau.
B – Morrer às vezes é um alívio.
A – É eu tenho dó de quem fica, não de quem vai.
B – E como é que você faz?
A – Eu me desconecto.
B – Me coloca ali.
A – Aqui está bom?
B – Perfeito. Agora pode ir.
A – Tchau.
B – Só mais uma coisa.
A – O que?
B – Me beija.
A – Sim. Eu tinha pensado nisso. (beija)
B – Obrigada.
A – Tchau.
B – Tchau. Agora sim eu posso viver.
(chega outro, C)
C – Oi, cheguei. Agora você vai viver.
B – Eu sei. Eu acabei de falar que estava pronta para viver.
C – Isso. Então vamos começar. Chora.
B – (finge que chora)
C – Não. Tem que chorar de verdade.
B – Eu não sei chorar de verdade.
C – Então você já morreu.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

3 - CENA - Uma Parte

Ele fica sentado, por alguns segundos até se perceber boneco, mas agora já se sente outro.
Ele - Eu quero sugestões. Alguém tem um nome, qualquer nome, não precisa ser conhecido, não precisa ser original. Hein, alguém... você alguém quem é? Qual é o seu nome? Eu nunca pensei pra que servia um nome, além do objetivo óbvio e comum – i-den-ti-da-de, i-den-ti-fi-ca-ção. Hoje desejo um nome, acho que eu poderei estar alguém através dele. Me encontrar e não me identificar.
Mulher outra, com outro estado. (pode ser a mesma ou outra atriz) Despojada, confiante, sardônica, ocupa todo o espaço com sua presença, ela está. Essa mulher entra com um microfone na mão, cantando (música a decidir), canta para o público, interage com um ou outro espectador, seduzindo, não importa se é homem ou mulher. Ela também canta para Ele, mas ele não a enxerga, nem a ouve.
Mulher – Eu procurei no dicionário, sinônimos da palavra identidade, achei que vocês poderiam achar interessante. Eu achei interessante. É interessante pensarmos nas conotações, sei lá a gente passa uma vida se definindo, buscando uma identidade. Vamos-lá, preciso me conter, sou capaz de ficar aqui falando com vocês qualquer coisa, com sentido ou não. Foco.
Mulher tira de sua bolsa (pode-se pensar em outra possibilidade)placas com as palavras, e mostra para o público, enquanto declama cada uma respectivamente.
Mulher - Identidade – Analogia – Carteira – Coincidência – Comunidade – Igualdade. Identidade sempre em relação a algo que está fora.
Ele - Você tem um nome que me ache? Você não gostaria de tentar me achar? Não adianta, seus nomes não me encontram. Eu tento um olhar para dentro, vejo fragmentos de letras, silabas, marcas e cores que surgem. Pode ser que meu nome venha de lá, lá longe, lá dentro. Um nome, alguém tem um nome... (silêncio)...
Mulher – Ele precisa de um nome. Qual nome. Ele escolhe? Mas se ele não escolher quem decide, quem sugere, quem namora um nome?
Ele – Alguma sugestão? Um nome?
Ele abre pastas que estão cheias de letras avulsas, joga tudo no chão, tenta organizar, brinca com as letras e suas possibilidades na busca de um nome. No quadro atrás ele prega as letras, a platéia lê combinações que não fazem sentido. Ele permanece nessa ação.
Mulher - Ele não é ela, ele não é ela vestido dela. Talvez ele possa ser ela, quando ela quer ser ele ou até outro, mas não ela e não mulher. Ele senta como homem, como mulher, senta estando, senta com presença, perplexo não consegue, possivelmente nunca soube um nome.
Ele – Burg... Trrivs... um nome... Eu me chamo alguém. Alguém tem um nome? Alguém com a mais boa vontade, poderia me sugerir alguém. Talvez alguém que já exista, ou já existiu. Um nome, eu alguém não sei quem já fui, não sei se já fui alguém, não sei que sou, ou se sou alguém. Um nome de ninguém pode ser um nome para mim, para o meu alguém que ainda é ninguém, ainda não é eu. Eu sou ele. Eu estou alguém em ninguém. Ugko, jern...
Mulher - Com certeza ele não sabia o nome dela, nunca tinha pensando na importância ou talvez no valor de um nome. Ele era capaz de sentir o cheiro dela mesmo que vindo de outra cidade. Ele que ainda não tinha um nome e nunca soube o nome dela, através de suas camadas mais superficiais vibrava em harmonia com o corpo dela, e vibrava dessa maneira só com o corpo dela. Sua capacidade de experiência-la ultrapassava a necessidade de um nome. Nome era para os outros, para aqueles que não se entrelaçavam, não se emaranhavam, ele não precisava de um nome até hoje, até agora. Agora que ela foi embora, ele não sentia mais cheiro, seu corpo não vibrava, não harmonizava mais. Um corpo em caos. Ele nunca precisou do nome dela, ele não precisa mais do nome dela afinal ela já não é mais ela, não aquele ela com ele, e ele não é mais aquele ele com aquele ela. Quem é ele agora? Ele quer um nome, ele precisa de um nome, ele quer se ver dentro.
Ele continua brincando com as letras, emitindo sons de possíveis nomes.
Mulher – Que tal Alfredo ou Jacques. Isso Jacques, Jacques é bonito, soa elegante, JACQUÊS (sotaque francês), nossa eu adoro francês, é lindo! Jacques, pronto.
Mulher vira para ele e fala alegremente.
Mulher – Jacques, querido!
Ele continua naquela mesma ação, não ouve a mulher.
Mulher – Jacques! Você não queria um nome! Eu escolhi. Jacques querido, presta atenção. Pára Jacques, pára de mexer nisso, fica quieto. Jacques, Jacques, Jacques.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Auto-Retrato em Movimento

Um primeiro levantamento de sequencias, tentando editar... tarefa dificil...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Diálogo parte II ou segunda variação treino

A - Um paredão. É isso. Uma parede grande, de concreto que eu nunca consigo atravessar. Eu me jogo na parede, mas não é o chão, não me segura – me interrompe.
B - A gente anda e de repente aparece uma parede.
A - Eu sempre me porro na parede.
B - Eu sempre me jogo no chão.
C - Eu sempre vago, nunca fui interrompida, a verdade é que eu danço tango pela vida.
A - Não mente.
B - É verdade, você nem sabe dançar.
A - Eu já tentei ensinar-la a dançar, mas ela mais pula do que dança.
C - A verdade é que você não sabe me pegar.
B - Ele não quer te pegar.
A - Você morreu, não adianta pular. O chão te segura, mas não te reanima.
B – Eu já pensei nisso.
C – O que é que foi que você disse?
B - Eu já pensei nisso.
C – Não, o que é que você falou antes?
B - Não me lembro. Acho que...
C – Eu morri. Você disse que eu estou morta.
A - Foi isso que eu disse.
B – Era isso que eu tinha pensando.
C – O que é que a gente faz quando a gente se desconecta?
A - Depende do que.
C - Do que o que?
A - Depende do que você se desconecta.
B - Da vida, do outro, de casa, da vida, de você.
C - Eu não escolhi morrer. Eu nem sabia que eu tinha que morrer. É pra eu me jogar no chão agora?
B - Como é que você morreu?
C - Como é que eu morri?
A - Você perdeu um grande amor.
C - Quem era ele?
B - Eu estava pensando nisso. Meu grande amor já passou.
A - Eu estava pensando nisso. Eu nunca tive um grande amor. Eu não gosto do chão, não gosto do limite, não quero me amarrar.
C - Meu grande amor... Eu tive um grande amor e agora eu estou morta e eu não me lembro. Qual era o nome dele?
A - Nome? Pra que? Não muda nada.
Os dois falam ao mesmo tempo, uma sobreposição de comando.
B - Espera! Se acalma.
A - Se acalma, espera.
B - Espera, espera. Espera.
A - Se acalma.
C - Espero. Me acalmo. Espero sem saber, sem lembrar, sem ser. Acho que não sou mais ninguém mesmo, as lembranças não me pertencem. Eu espero. Eu estou calma.
A - Você só podia ter morrido. Não importa de que jeito.
B - Você já não prestava. Já não queria mais se jogar no chão. Você já morreu.
C - Um, dois, três morri! Não funcionou.
B - Engraçado eu estava pensando nisso.
A – (dando ordem para C, C imovél não obedece nenhum comando) Pára. Senta. Pára. Deita. Pára, senta. Pára, se joga.
C - Eu morri. Como é que eu morri? Não me deixa voltar pro zero. Como que eu faço para renovar?
B - Seu nome era um nome comum, tipo Maria.
A - Não seu nome era Carmem.
B - Talvez Ana.
C - Eu não me vejo como Carmem. Você está rindo do que? Não tem a menor graça!
A - Você acha que se vê.
B - Isso é engraçado.
C - Olha pra mim. Eu não consigo atravessar um muro e o chão me segura.
A - Você acha que se vê. Ajoelha e reza.
C se joga no chão.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Diálogo em treino e em open.

A – O que é que ele quer? ...eu sei..., mas deixa pra lá.
B – Não não. Me diz. Deixa pra lá.
A – Mas é que eu ainda tenho dúvida.
B – De vez em quando eu me jogo no chão só pra saber que eu tenho limite.
A – (silêncio)
B – Espera não vai embora, você não me disse ainda.
A – Eu nem sei mais o que eu ia dizer... (entra música) essa música puta que pariu, não totalmente puta que o pariu.
B – Que que foi? Puta que pariu o que?
A – Espera foi ontem que eu... que que foi? Tá rindo por que?
B – Você. Você se desconectou.
A – De vez em quando eu me jogo no chão só pra saber que eu tenho limite. É difícil sair daqui, a gente sempre tem uma coisa que prende.
B – É. A verdade é que é difícil sair daqui, a gente fica confortável com facilidade.
A – É. E quando fica confortável você se joga no chão.
B – Na realidade eu me jogo no chão porque gosto do chão.
A – Eu não consigo te dizer a verdade e você fala da realidade.
B – Eu falo muito facilmente, choro facilmente, riu facilmente, mas nem tudo isso na verdade é verdade. A verdade é que eu tenho muito medo de ficar sozinho.
A – E eu tenho medo de morrer.
B – E eu tenho medo de viver, e tenho medo que os outros morram.
A – As vezes eu acho que estou doente.
B – Eu posso morrer e nem saber que morri.
A – Eu tenho medo de ficar sozinho.
B – A verdade é que eu sou alcoólatra.
A – Calma. Espera! Espera! Eu falei pra você esperar! Espera aí!
B –Calma você só tá fazendo terapia há dois meses. Se acalma!
A – É que eu não durmo, eu sou alcoólatra, viciado, me espera. Me espera. Não me deixa! Eu não quero ficar sozinho.
B – Ele tem medo de morrer. Me fala o que você sonhou ontem.
A – Eu não vou contar. Não vou chorar meu sonho. Meu choro que me diz, que conversa comigo e me ampara. Eu não sou maluco. Eu não preciso de ajuda.
B – Eu não quero te ajudar. Você me paga e eu te ouço, é só e pronto. Simples assim.

Continuação diálogo término ele e ela

Ela com se tivesse saído. Vira pra frente e ele que ficou também vira pra frente. Os dois falam um de cada vez, não se ouvem.
Ela - Depois que eu fui embora eu cantei e gritei um agudo que nem eu sabia que tinha, que estava dentro de mim. Minha garganta secou e sufocou a minha voz. Não consegui mais emitir sons pela minha boca.
Ele – Depois que você foi embora eu cantei e gritei um agudo para o meu travesseiro. Ouvi minha voz desesperada abafada na fronha e na pena. Não podia vacilar e deixar o vizinho ouvir meu choro. Minha boca agora murcha, com voz, mas sem vida, quase que sem língua. Não quero mais beijar ninguém.
Ela – Eu quero sair e beijar o primeiro que cruzar a rua.
Homem passa cruzando. Ela agarra e beija o homem, ele se assusta mas não recusa o beijo. Os dois se beijam apaixonadamente, e ele o ex pára e olha a agarração. Ela arranca a roupa dele, arranca a roupa dela. E no meio dessa loucura, desse ímpeto ela pára e pergunta o nome dele.
Ela – Qual o seu nome?
Homem perdido, não entendendo direito aquela cena bizarra.
Homem – uh... eu... eu não sei... eu esqueci...
Ela – Deixa eu ver a sua carteira? (Vê que Homem ficou só de cueca e que não tem carteira nenhuma nele, deixando-o sem graça.)
Homem – ah.. uh... a minha carteira.... carteira. Eu não tenho carteira.
Ela – eu não acredito. Cade? (começa a mexer nas roupas que foram jogadas no chão) Ah! Achei!! (debochando) Não tenho carteira, bla bla bla... esqueci meu nome... bla bla bla... eu também. eu também esqueci meu nome... (Ri) eu também não tenho carteira, identidade então! Nunca tirei uma, eu não existo, não tenho nem certidão de nascimento, (rindo), eu não tenho mãe nem pai, nasci nem sei como, eu nasci já esse eu de agora. Sem nome nem documento nem história... (debochando), pega a carteira, abre e começa a tirar vários papeizinhos, vários -um exagero, é interminável. Tenta ler as anotações, tudo muito confuso. Finalmente chega no documento olha e lê.
Ela – (continuando o deboche)Eu não tenho nome... aqui ó, seu nome é... deixa eu ver...Chargeson. Chargeson!? Chargeson não é nome!!! É mistura de seriado japonês tosco e algum “son” da vida. Chargeson! Ô coisa cafoninha.
Homem – Chargeson? Meu nome é Chargeson? Tudo bem então me chama. (vira de costas e espera)
Ela – Oi?
Homem – Me chama. To esperando.(vira de costas novamente.)
Ela – A tá. Ô Chagerson!!!
Homem – imóvel permanece de costas
Ela – Ô esse menino Chargeson! to chamando! (cutucando ele)
Homem – (toma um susto) Oi? Você me chamou? Ta vendo eu te disse, meu nome não é Chargeson, eu teria atendido de primeira, eu não sei o meu nome. Qual é o seu nome?
Ela – Qual é o seu nome?
Homem – Não qual é o seu nome?
Ela – Não qual é o seu nome?
Começam a elevar o tom, falam ao mesmo tempo, gritam se irritam e ficam agressivos.
Ele que estava olhando, faz algum barulho (a decidir, grito, apito, batida) e interrompe a discussão, os dois agora mudos olhando para ele.
Ele – (Para ela) Seu nome vai ser Nora. (para homem) E o seu é Homem.
Ela – Mas e hoje?
REWIND. Tempo volta para o inicio da discussão.
Ela – Qual é o seu nome?
Homem – Não qual é o seu nome?
Ela – Não qual é o seu nome?
Começam a elevar o tom, falam ao mesmo tempo, gritam se irritam e ficam agressivos.

sábado, 2 de outubro de 2010

história em treino, esse menino existe.

O Leandro com quinze anos era um menino muito perdido e desencontrado. Ele não tinha muitos amigos, na verdade tinha um amigo, que só ele conhecia, só ele via. Um amigo que vinha de algum lugar que talvez nem fosse lugar, pelo menos para nós que sempre precisamos explicar as coisas e as pessoas. O Leandro não, ele era perdido e exatamente por ser perdido é que ele tinha a sorte desse encontro. Todos os dias o seu amigo passava no jardim da sua casa gritando por ele pra jogar bola, correr, conversar. Eles passavam horas juntos e nem percebiam o tempo passar. Esse era um amigo de verdade, um amigo que estaria sempre ali disponível, um amigo que ele não precisava se preocupar. E assim foi durante muito tempo, até o dia em que ele teve que se mudar, seu pai foi transferido e claro ainda um menino adolescente teve que ir junto. Na sua nova casa, que era um apartamento no décimo andar nunca mais seu amigo apareceu, e Leandro que já não tinha muitos amigos, na verdade só tinha um, naquele momento ficou sem nenhum.