domingo, 29 de maio de 2011

Será que meu coração aguenta?

Será que meu coração aguenta. Tem tanta coisa presa. Será que tanta coisa aguenta ficar dentro do meu coração. Eu não quero mais isso tudo, fico acelerando o tempo, antecipando as chances e possibilidades. Desenho a cena - poderia ser qualquer cena, mas limito, e vejo um desenrolar, e sinto medo, e meu coração corre de ansiedade e eu não deixo as coisas acontecerem, não deixo elas saírem, não deixo mais nada estar. Estamos presos, meu coração e eu, estamos presas as coisas e eu. Eu me prendi. Estou me vendo de fora. É pra ser simples, é pra viver. Eu quero como eu quero, e já deixou de ser o que eu quero, eu nem sei mais o que eu quero, nem sei bem mais eu, mais nada de mim. Coração preso de coisas, de mim; por mim que não aguento mais essa arritmia; por mim que sei de poucas coisas que não faço, que fujo e fico esperando as coisas clarearem, mas elas estão presas na arritmia do meu coração. Achava que era só o meu coração gritando, mas agora ele convidou o meu pulmão, os dois se juntaram a meu favor, e eu ainda contra mim e contra eles, que estão pedindo pra serem ouvidos. Os dois cheios de coisas presas e coisas minhas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mude de Edson Marques

"Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!"

sábado, 14 de maio de 2011

Uma teoria ou um discurso de bebado

Eu tenho uma teoria sobre assaltos. Na verdade é sobre a relação entre o assaltante e a vítima. Uma teoria de que já existe uma relação estabelecida do papel de cada um nesse encontro, o opressor ativo que oprime e a vítima reativa que é oprimida. Os papéis são claros. Mas e se a vítima mudar a sua resposta?
Por exemplo, um assaltante chega no vidro do seu carro e começa a gritar – “Passa a bolsa!” ou “Eu vou atirar!” e aí, ao invés de você como vítima, fazer o que a vítima faz sem pensar, que seria: entregar a bolsa ou talvez até atacar o moço num instinto louco de sobrevivência; você resolve fazer algo de inesperado, algo que uma vítima nunca faz, algo que não tem cara de vítima. Tipo, sei lá... já ter uma caixa de bombom no carro esperando o assaltante e na hora certa que ele chegar te xingando você dá pra ele de presente. Uma caixa de bombom... quem não gosta de bombom! Outra opção pode ser também, brigar com ele por estar te dando um susto desses. -“Cara, que isso! Você podia ter me matado de susto!”
Gente é muito simples, as possibilidades são infinitas, o negócio é pensar em algo completamente inesperado que desconsertaria o assaltante. É claro que isso aqui é só uma teoria, talvez nem seja a solução, pode até ser o fim, o ladrão se irritar e dar um tiro na sua cara, mas com certeza você vai tirar ele do ciclo vicioso que ele vive como o opressor. O que eu quero dizer é você pode quebrar o assaltante, ela vai ser obrigado a dar uma nova resposta, seja ela qual for.