sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dialogo Treino 3

A – Você está aí esperando?
B – Eu estou sempre esperando.
A – O que?
B – Sabe que eu não sei. Eu só espero.
A – Eu não tenho paciência para esperar. Estou sempre antecipando tudo.
B – Pois é, você acha que controla.
A – Você também, porque quando espera acha que pode escolher ou saber a hora certa.
B – Hora certa! É porque a gente pode sentir quando é a hora certa. Isso não é controle, isso é disponibilidade ou até entrega.
A - Você pode dar o nome que quiser. Para mim é um tipo de controle.
B – Por que você não vai embora e me deixa esperando?
A – Porque eu tenho que ficar aqui do seu lado.
B – Quem disse?
A – Ninguém, eu sei. Também sei que você deve pular enquanto espera.
B – Pular?
A – É pular.
B – Quem disse?
A– Ninguém. Eu sei. Pula.
B – (começa a pular) E agora?
A – Fica aí pulando, senão você se desconecta.
B – E o que é que eu faço se eu me desconectar?
A – Para de pular e se joga.
B – O que é que você disse?
A – Que você pode se jogar caso se desconecte.
B – Não me desconectei. (sem parar de pular) Ó to aqui, ó to aqui.
A – Muito bom! Parabéns.
B – (se joga no chão) Qual é o meu nome?
A – Nome? Mas você não estava esperando?
B – Estava? Espera. Esperando o que?
A – Ué! Você disse que estava esperando a hora certa.
B – Estranho. Esperar a hora certa, e aí depois eu paro de viver?
A – Acho que é por isso que você nunca teve um grande amor.
B – Mas eu esperei de calcinha vermelha.
A – Você acha o que? O que é que você está pensando?
B – Eu estava pensando nisso.
A – Não mente.
B – Me tira daqui.
A – Se joga de novo.
B – Você está me confundindo. Me solta. Me larga. Eu não sou você.
A – Você não sabe.
B – Me tira daqui. Eu não estou morta. Ontem eu dei o cú. Eu não estou morta, eu dei viva. Viva! Eu não estou morta.
A – Quem disse que você está morta? (rindo) Que doida! Você não estava só esperando?
B – Eu estava? Não me lembro. Eu estou viva. Não me lembro.
A – Você está esperando morrer.
B – Pode ser. A hora certa vai chegar. Aos poucos eu me perco de mim. Você não pode me matar. Eu tenho a hora certa.
A – Você e a hora certa. Que boba. Hora certa... Se joga!
B – Eu não consigo. Não consigo me ver de fora. Acho que estou perdendo o meu contorno.
A – Eu estava pensando nisso.
B – Pensando em que?
A – No seu contorno, e não é que eu não estou mais te reconhecendo. Talvez você realmente devesse se jogar. Quem sabe alguma coisa acontece. Vai que você se reconecta.
B – Mas se eu me reconectar, não vai chegar a minha hora?
A – Que hora?
B – Hora certa.
A – Hora certa de que?
B – De morrer, viver, voltar...
A – Voltar para onde? De onde você veio?
B – Acho que eu tive um fusca, me lembro disso. Consigo até ouvir o barulho do motor dele, parecia sempre que ia morrer a qualquer segundo.
A – E o que mais?
B – Que mais o que? Um fusca já é uma boa lembrança. Me faz ser alguém.
A – O fusca te faz ser alguém?
B – Não a lembrança me faz ser alguém. Meu nome pode até ter sido Carmem.
A – Carmem?
B – E também me lembro dessa frase – “Todo grande amor sempre acaba.”
A – Quem te falou isso?
B – Bom aí você já está querendo demais. São três lembranças! Eu estou viva e talvez não saiba hora certa de morrer.
A – A é? Três lembranças e agora você está achando que se conectou. (risos) Coitada.
B – Carmem, meu querido fusca e “todo grande amor sempre acaba”. Pronto. Sou alguém.
A – (rindo muito)
B – Eu sou Graça. Isso! Meu nome não é Carmem é Graça! Maria da Graça. Eu sabia que tinha um nome comum.
A – Prazer Maria da Graça. Eu voltei. Você está pronta?
B – Eu nasci pronta. Vamos.
A – Me acompanhe.
B – Com prazer. Vamos.
A – Vamos.
B – Vamos.
A – Tchau.
Duas sequencias que podem continuar esse dialogo.
PRIMEIRA

(A vira de costas pra ir embora sozinha, mas não ouve o tchau de B, então vira de novo)
A – Me dá tchau porra!
B – Oi.
A – Eu estou indo embora. Com ou sem tchau. Você escolhe. Tchau.
B – Oi, fica.
A – Tchau eu vou.
B – Me beija.
A – Você nunca quis me beijar.
B – Hoje eu quero.
A – Hoje eu vou embora.
B – Hoje eu te beijo. Amanhã você vai embora.
A – Amanhã eu beijo outro e depois outro. Hoje eu vou embora. Tchau.
B – Tchau. Já me esqueci de você e do seu beijo.
A – Eu nunca te beijei.
B – Você também se esqueceu.
A – Impossível.
B – Impossível...
A – Tchau. (sai)

SEGUNDA
A – Prazer Maria da Graça. Eu voltei. Você está pronta?
B – Eu nasci pronta. Vamos.
A – Me acompanhe.
B – Com prazer. Vamos.
A – Vamos.
B – Vamos.
A – Tchau.
B – Morrer às vezes é um alívio.
A – É eu tenho dó de quem fica, não de quem vai.
B – E como é que você faz?
A – Eu me desconecto.
B – Me coloca ali.
A – Aqui está bom?
B – Perfeito. Agora pode ir.
A – Tchau.
B – Só mais uma coisa.
A – O que?
B – Me beija.
A – Sim. Eu tinha pensado nisso. (beija)
B – Obrigada.
A – Tchau.
B – Tchau. Agora sim eu posso viver.
(chega outro, C)
C – Oi, cheguei. Agora você vai viver.
B – Eu sei. Eu acabei de falar que estava pronta para viver.
C – Isso. Então vamos começar. Chora.
B – (finge que chora)
C – Não. Tem que chorar de verdade.
B – Eu não sei chorar de verdade.
C – Então você já morreu.

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