quinta-feira, 1 de julho de 2010

Antonia na Cor

Quando a Antonia foi embora ela não tinha pensado em nada, ela apenas tinha sentido e percebido o mundo. Sabia que não dava mais pra ficar naquela mesma casa, naquele mesmo espaço. Ela decidiu e foi, achava que era isso mesmo, que estava fazendo a coisa certa, mesmo sem saber direito o que era certo e o que era errado. Antonia fez o que seu corpo lhe disse. Ela foi embora. Foi embora para o nada, ou para o todo. Antonia foi embora, chegou a lugar nenhum - lugar que era todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo. Eu me pergunto como pode Antonia estar num lugar que é todos e nenhum? Acho que nem ela sabia e entendia, mas era o que ela sentia. Era talvez a cor branca dos lugares, com a possibilidade de vir a ser qualquer cor, a qualquer dia, com qualquer pessoa, ou só com ela mesma. Cores, muitas cores, Antonia já começava a imaginar qual cor que ela queria estar primeiro. Existem as cores óbvias que todo mundo conhece e diz que é a sua favorita, tipo azul, verde, vermelho. Mas Antonia imaginava magenta, goiaba, azul turquesa, pêssego, salmão – Nossa! Fiquei até com um pouco de fome pensando nas cores que Antonia queria estar. Em alguns momentos, o seu branco queria estar todas as cores ao mesmo tempo, tamanha ansiedade da menina. Mas todas as cores ao mesmo tempo levariam a menina de volta para o branco! Calma e ansiedade, Antonia que com sua calma conseguiu sair de casa, e chegar no branco; agora com toda essa ansiedade de sair do branco corria o risco de voltar pro mesmo branco.
O branco era bom poxa, o branco é a possibilidade, é a tranqüilidade de saber que já já vai aparecer uma cor, qualquer cor para colorir seu mundo branco. Apesar da ansiedade da menina em escolher uma cor, mal sabia ela que não precisava escolher, era só estar e aproveitar o branco que já já apareceria um jambo ou um amarelo sol. As cores surgiriam sem uma ordem específica, viriam de acordo com o momento da menina. Antonia estava no branco, pensava nas cores, estava no branco, aliviada de ter ido embora.
Antonia não queria mais uma casa certinha, com tudo certinho. Não queria uma casa com tudo já arranjado e arrumado. Eu agora que fico pensando na Antonia, no seu branco, e de repente numa e depois noutra cor, tento imaginar esse mundo em transição de tons. Acho que esse mundo não deve ter casa não, nem cadeira, nem pé de cadeira, nem almofada, nem sofá. Esse mundo, talvez seja vários, um a cada cor. E cada cor tem um cheiro, e cada cheiro tem uma emoção, que poderia ou não se misturar com outra emoção ou com um gosto. E essa mistura de gosto, cheiro e emoção poderia gerar novas formas,novos objetos e novas necessidades. Quem sabe nesse novo mundo a menina ao invés de sentar para descansar suas pernas, ela pudesse pegar um pouco do laranja, com um pouco da preguiça, e pincelar essa combinação na sola de seus pés. Ué! Laranja com preguiça poderia ser uma ótima receita, sei lá vai que vira uma base que equilibra todo o esforço e energia produzidos pelo corpo, e pronto pernas descansadas rapidamente. Imagina só, poder misturar coisas, sentimentos e sutilezas tão peculiares, e de repente não precisar mais de carro, cozinha, shampoo! Seria Genial!Eita! Eu que estava falando da ansiedade da menina, já estou inventando receitas para o novo mundo de Antonia antes mesmo dela sair do branco.
O branco, Antonia tinha que estar o branco, só assim ela viveria de verdade sabe. A gente não pode estar no branco pensando no roxo ou no lilás, a gente tem que estar no branco, sentindo o branco, vendo o branco, respirando o branco. A gente tem que estar branco, branco dentro e branco fora, se o mundo propôs o branco para Antonia, então é o branco que ela tem que agarrar, sua presença no branco, e o resto... ah... resto não importa... o resto é o resto, ainda não tem vida.

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