quarta-feira, 16 de junho de 2010

No Deserto



Quando a gente brincar de correr, você promete que vai me deixar ganhar? Você sempre na frente as vezes me deixa com vergonha. Eu poderia ir na frente, talvez na frente de mim mesma, ou na sua frente, só se você deixasse. Eu acabo sempre ficando para trás. Procuro ouvir de onde vêm os seus passos, mas é difícil. Não ouço nada. Vejo a rua, o campo, quase sempre fico sem te ver. Melhor sair sem, não ter o que procurar, deixar aparecer o que a vida me propuser. Queria brincar de correr, mas essa correria agora me parece mais séria, menos jogo, menos vida, mais preocupação. Correr é correr e pronto. Sem esperar porque tenho que, sem parar porque tenho que. Correr porque quero, cansar porque quero. Porque meu corpo pede e eu percebo.
Chove. O sol que vive no deserto, hoje pediu folga. A água molha esse tempo seco, tão seco que toda manhã fica difícil de engolir com a garganta tão seca. Chove no deserto, água vai lavar a estrada, limpar o terreno do lado de fora que já havia acumulado tanta areia.
Do que é que eu tenho sono agora? Um sonho que dá um nó e no final costura uma rede tão linda e confortável que eu choro de emoção e alívio. Um sonho, que aperta e desaperta minhas mãos, que seguram a roda que eu estava ansiosamente esperando pra jogar. Sonho que jogo a roda, viro o tapete, e a corda sobe para que eu possa vir escorregando lá de cima. Chego em casa, cheia de areia fofa.

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